Damían López Alfonso, nascido em Havana, Cuba, há 44 anos, é um atleta que ninguém poderia ter imaginado nos seus sonhos mais delirantes.
Com apenas 13 anos recebeu acidentalmente um choque elétrico de 13 mil volts e esteve em coma durante 52 dias, sofreu ferimentos faciais graves, ficou desfigurado, e teve os braços amputados abaixo do cotovelo.
Ficou um ano acamado no hospital e não se viu ao espelho até sair de lá, numa cadeira de rodas. A sua tia contava que Damían não chorou: “ele nunca teve vergonha de si mesmo, apesar do choque com a sua nova imagem ” .
O espírito impetuoso e aventureiro vivia consigo desde criança. Não aceitava que as pessoas lhe dissessem que não podia ou não conseguia fazer isto ou aquilo. E assim permaneceu.
Damían já participava em provas infantis antes do acidente e, em 1995 regressou à bicicleta com o apoio de um guiador adaptado.
Um percurso profissional e o segundo acidente
Aos 34 anos, o ciclista sem antebraços estreou-se numa competição oficial no Canadá e participou em 2012 , nos Jogos Paralímpicos de Londres, , pela primeira vez. A sua bicicleta especial de corrida foi adaptada e apetrechada com um guiador levantado, para que pudesse descansar os cotos e acionar os travões e mudanças.
Nos Jogos Paralímpicos Londres 2012, López terminou em 12º lugar na prova de estrada na categoria C 4-5, e em 13º no contra-relógio da classe C 4. Nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, repetiu o resultado no contra-relógio e terminou em 17º lugar na estrada.
Nesses dois Jogos Paralímpicos, o atleta também competiu em provas de atletismo e, além disso, participou em campeonatos mundiais de ciclismo de pista e estrada.
No entanto, o ciclista voltou a enfrentar mais lesões graves, em 2018, quando foi atropelado por um autocarro durante o treino e acabou por perder a perna direita. O sonho teria caído por terra de novo? Reergueu-se e teve de lutar muito pela prótese para a perna e nomeadamente por apoios financeiros.
O volte-face de Nova Iorque
A ciclista americana Tracy Lea foi uma das que descobriu a história extraordinária de Damían durante uma viagem a Havana.
Damían já era uma lenda na sua terra natal quando Lea lhe ofereceu a oportunidade inesperada de ir para os EUA para ser tratado. A obtenção do visto foi uma odisseia, mas isso era perfeitamente ultrapassável para alguém com o nível de determinação do ciclista cubano.
Com o auxílio de Lea obteve alguns patrocinadores como a Fuji que lhe doou a sua bicicleta especial e a Achilles Foundation que lhe atribuiu uma bolsa para participar dos Jogos Paralímpicos e financiou as próteses para os antebraços, até porque tal é regra para participar em algumas competições. Damían ficou eternamente grato a Nova Iorque, onde apaixonou a comunidade ciclista, e de onde saiu ainda com o rosto parcialmente reconstruído, depois das queimaduras sofridas logo no primeiro acidente.
O ciclista foi o primeiro atleta cubano a disputar os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020, em agosto de 2021, na categoria individual nos três mil metros da categoria C 1.
O apoio à juventude cubana
Damían tem alguns outros objetivos que também deseja alcançar: inspirar outras pessoas com grandes desafios, apoiar a sua comunidade, em Cuba, e oferecer oportunidades a jovens cubanos de situação de risco, para que superem obstáculos por meio do ciclismo.
O atleta cubano tornou-se uma referência e começou a usar o seu estatuto para melhorar outras vidas. Reúne peças de bicicletas para dar a pessoas que não podem pagar e participa em corridas solidárias para juntar dinheiro para crianças hospitalizadas, são apenas alguns dos exemplos. Damían incentiva os mais novos que sofrem com qualquer tipo de deficiência para que se levantem e não deixem a deficiência os defina. É alguém que usa a sua própria experiência na adversidade para ajudar a aliviar o sofrimento dos outros, mostrando-lhes que tudo é possível na vida.
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